Sunday 13 December 2009

Fora por aquilo que hoje sou...

Não mais olharei para trás.
Jamais estagnarei no tempo,
esperando por uma só palavra.

Na minha cadeira, com o meu bloco e a minha caneta de tinta permanente, segura na mão bem firme, olhei para as paredes que me envolviam. Na mente flutuam, viajam, todos os desejos e quereres de uma vida que,outrora julguei colorida, mas que agora vejo que nunca teve outra cor senão cinza.
Já não sei mais que viver. Já não sinto que precise de o fazer. Vou manter-me aqui, sentada na minha cadeira, observando da janela do meu quarto o passar do tempo. Não vou fazé-lo parar. Vou apenas fazer com que passe por mim. Vou ficar aqui sentada a observar o girar do mundo, a mudança da lua e das marés. Ver o desabruchar das flores novas na Primavera e a migração das andorinhas no Outono.
Ver a neve cair no Inverno e as amendoeiras a florir quando o tempo delas chegar.
Passaram anos. As marcas do tempo já começam a fazer-se notar. Já não sou mais uma criança. A "criança" que decidiu deixar-se ficar e ver o mundo passar por si, sem nada fazer. Passei anos aqui sentada, a olhar pela janela. Hoje, muitos anos depois, olho com olhos de quem quer ver o que o tempo fez a sua visão, e não vejo nada que me deixe feliz...
Deixei de contar o tempo. Mas sei que passou depressa de mais. Aqui de novo estou. Agora uma velha sem nada para contar. Sinto-me triste. As visões que me envolvem são de uma realidade tão amargurada e penosa que nem consigo distinguir o que realmente vejo daquilo que queria ver. O mundo tornou-se um lugar hóstil, sangrento, sem escrúpulos, onde a maldade, a vingança e o desejo de aniquilação do próximo imperam, sentados num trono construido sobre a subjugação dos mais fracos.
Ao caminhar pela rua, vejo a desgraça que o tempo causou. Morte, doença, fome. Ningúem me vê. Será que não estarei morta também?! Não sei. Só sei que este não era o Mundo que eu conheci, anos antes de me decidir.
O que poderia eu ter feito para prevenir todo este cenário de mágoa, dor e tristeza? Será que deixar o tempo passar terá sido a melhor solução? Será que não me encostar à ombreira da porta ou não ficar sentada na minha cadeira de baloiço durante tanto tempo poderia ter feito a diferença?
Claro que podia. Claro que a minha ajuda, por pequena que fosse, podera ter evitado este cataclismo que meus olhos vêem e que meu coração chora.
Nem sempre a passividade é a solução. No entanto, e por uma vez na vida, tenho a oportunidade de voltar a trás.
Meto a mão ao bolso do casaco, à procura do meu relõgio de bolso antigo. Abro-o e rodo-o 3 vezes.
TIC TIC TIC...
De volta ao presente. Ao momento em que decidi entregar-me à adversidade, sentando-me na minha cadeira, esperando pelo passar do tempo. Paro e penso. Não. Vou ser mais forte, vou vencer e vou fazer a diferença. POR UM MUNDO MELHOR...
Setinha @ "Por um mundo melhor - Vera Branco"

1 comment:

  1. Simplesmente brilhante. Adorei a mudansa de ritmo e final inesperado (se bem que preferia mais a direcção ao início xD )

    -- 'For the Greater Cause.'

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