Wednesday 30 December 2009

"Não sei se é sonho, se realidade"

Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul de olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri
Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter.
Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.
Mas já sonhada de desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar,
Sob os palmares, á luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nesta terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem
Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.

Setinha @ Às voltas na cama para adormecer - "Não sei se é sonho, se realidade" - F.P.

Monday 14 December 2009

Quem és tu?

Quem és tu afinal?
Cujo olhar me confunde e atrofia
Cujas palavras me deixam sem jeito
E com um ronronar no peito
Quando, a cada dia.
Me fazes sentir especial.

Como entraste tu na minha vida?
Tornando-a mais colorida,
Como se pintasses em mim um quadro
Com a tua personalidade de um doce de chocolate amargo...

Setinha @ Sintonia com J.I.

Sunday 13 December 2009

Fora por aquilo que hoje sou...

Não mais olharei para trás.
Jamais estagnarei no tempo,
esperando por uma só palavra.

Na minha cadeira, com o meu bloco e a minha caneta de tinta permanente, segura na mão bem firme, olhei para as paredes que me envolviam. Na mente flutuam, viajam, todos os desejos e quereres de uma vida que,outrora julguei colorida, mas que agora vejo que nunca teve outra cor senão cinza.
Já não sei mais que viver. Já não sinto que precise de o fazer. Vou manter-me aqui, sentada na minha cadeira, observando da janela do meu quarto o passar do tempo. Não vou fazé-lo parar. Vou apenas fazer com que passe por mim. Vou ficar aqui sentada a observar o girar do mundo, a mudança da lua e das marés. Ver o desabruchar das flores novas na Primavera e a migração das andorinhas no Outono.
Ver a neve cair no Inverno e as amendoeiras a florir quando o tempo delas chegar.
Passaram anos. As marcas do tempo já começam a fazer-se notar. Já não sou mais uma criança. A "criança" que decidiu deixar-se ficar e ver o mundo passar por si, sem nada fazer. Passei anos aqui sentada, a olhar pela janela. Hoje, muitos anos depois, olho com olhos de quem quer ver o que o tempo fez a sua visão, e não vejo nada que me deixe feliz...
Deixei de contar o tempo. Mas sei que passou depressa de mais. Aqui de novo estou. Agora uma velha sem nada para contar. Sinto-me triste. As visões que me envolvem são de uma realidade tão amargurada e penosa que nem consigo distinguir o que realmente vejo daquilo que queria ver. O mundo tornou-se um lugar hóstil, sangrento, sem escrúpulos, onde a maldade, a vingança e o desejo de aniquilação do próximo imperam, sentados num trono construido sobre a subjugação dos mais fracos.
Ao caminhar pela rua, vejo a desgraça que o tempo causou. Morte, doença, fome. Ningúem me vê. Será que não estarei morta também?! Não sei. Só sei que este não era o Mundo que eu conheci, anos antes de me decidir.
O que poderia eu ter feito para prevenir todo este cenário de mágoa, dor e tristeza? Será que deixar o tempo passar terá sido a melhor solução? Será que não me encostar à ombreira da porta ou não ficar sentada na minha cadeira de baloiço durante tanto tempo poderia ter feito a diferença?
Claro que podia. Claro que a minha ajuda, por pequena que fosse, podera ter evitado este cataclismo que meus olhos vêem e que meu coração chora.
Nem sempre a passividade é a solução. No entanto, e por uma vez na vida, tenho a oportunidade de voltar a trás.
Meto a mão ao bolso do casaco, à procura do meu relõgio de bolso antigo. Abro-o e rodo-o 3 vezes.
TIC TIC TIC...
De volta ao presente. Ao momento em que decidi entregar-me à adversidade, sentando-me na minha cadeira, esperando pelo passar do tempo. Paro e penso. Não. Vou ser mais forte, vou vencer e vou fazer a diferença. POR UM MUNDO MELHOR...
Setinha @ "Por um mundo melhor - Vera Branco"

Thursday 26 November 2009

O dia em que ela se foi...

Desço as escadas em direcção à porta. Perguntas sem resposta aparente ecoam. Ecoam cada vez mais alto na minha cabeça. Estou confuso. Não consigo entender o porquê da tua partida. Corro, corro. Levo a tua carta na mão e enquanto corro, os pensamentos aceleram-se e mais perguntas surgem. Parei junto ao nosso lugar para ler e reler de novo a mensagem que hoje me deixaste sem mais nenhuma justificação. Sinto a tua falta.

"L.
Costumavamos passar os Verões sentados à beira do lago a atirar pedras, a apanhar rãs e a sentir o sol nas faces. Tempos d'ouro esses. Será que ainda te lembras? Será que sentes saudades desses dias dourados em que nos olhavamos lá bem no fundo do nosso ser e nos riamos sem parar de palermices sem importância? Será que sentes?
Não sei. Hoje, estou aqui, a escrever esta carta para te dizer que sinto falta. Sinto muita. Embora esse pensamento permaneça eterno na mente de quem ainda te ama, digo-te agora com os olhos marejados em lágrimas que já não quero sentir que sou um peso na tua vida. Não quero sentir que fico com as migalhas que sobram daquilo que, com tanto amor, dedicação e amizade, dás aos outros.
Hoje, aqui, junto ao lago que nos viu crescer, amadurecer e seguir em frente, sento-me com a minha caneta e esta folha de papel branca e escrevo-te, em jeito de dizer adeus. Não será um adeus eterno. Apenas um "Até Já, L. ". Desta vez, tenho que partir, crescer e ser feliz. Voltar a sentir que não sou só apenas a miragem da porta ao lado ou aquela com quem brincavas em pequeno.
Prometemos que a nossa amizade seria eterna. Juro-te que vou respeitar essa promessa, mas agora chegou aquela hora que sempre tememos. A de me despedir. Vou apanhar a primeira brisa do temp e seguir com ela até onde me levar e lá, plantarei de novo a semente e esperarei que ela germine, cresça e se torne forte. E, no dia em que voltar, trazida de novo, pelo calor de ti, vou olhar novamente pela janela do meu quarto e ver-te sentado no baloiço do teu quintal e perceber que nada mudou. Que apenas nos perdemos nos labirintos do tempo e, agora que voltei ao lugar que sempre me pertenceu e que sempre me tomou como dele, tudo está no devido lugar.
Sei que ao leres esta carta, pensarás o que terás feito para, de repente, te veres sem mim. Verás que nada fizeste. E se um dia me perguntares o que me levou para longe de ti direi que foram os fios da teia do destino que nos separaram. Agora, sei onde estás.
Sei que estás onde queria que estivesses a ler este breve adeus. Sentado, na pedra marcada pelas nossas aventuras junto da laranjeira onde nossos nomes gravaste como sinal de amizade eterna. Vou voltar em breve. Espera por mim. Cresce, voa, sê livre. Até um dia. Com muito amor.

J.P."
Setinha @ O dia em que ela partiu

Thursday 29 October 2009

Uma vida, uma viagem

A vida é uma viagem de comboio. Com paragens, estações principais e pequenos apeadeiros.
Pessoas que saem, que entram, que ficam, que nos deixam bagagem, malas, malinhas e malões de uma história que é nossa e que ficará para sempre connosco. Nem sempre nos apercebemos disso, mas é esta bagagem deixada por aqueles que saem e entram que nos leva ao céu e tocar nas estrelas. Que nos leva até ao mais profundo dos buracos, até junto ao ponto onde o que é sólido vira fluido, e onde as lágrimas correm de par em par e não cessam. E a viagem prossegue. Prossegue e eis que pára o comboio num pequeno apeadeiro. Um sem importância hoje. E amanha? Será assim tão indiferente o passageiro que nele entrou? Às vezes, o mais insignificante dos indíviduos revela-se o mais valoroso, o mais sensato e mais honesto de todos. Aquele que apenas trás na mala a sua sabedoria e que nos arranca sem mais nem menos de um desespero profundo que é a nossa própria solidão. Muitos deles entram na estação principal, são estrelas que brilham em todo o seu esplendor. Será que no fim da linha ficam? Ou prosseguem a minha viagem? Outros são como o passageiro do pequeno apeadeiro.
Aquele passageiro que, no começo, parecia um vulto. Um ser sem alma ou pequena luz ao qual ninguém dava atenção. Mas eis que se revela. Revela-se e mostra o seu valor.
Esta lição foi-me ensinada por um passageiro que viaja deste sempre neste comboio. Alguém que ficará eternamente dentro dele. Alguém que faz parte dele e que nunca pode ser esquecido.
Aquele cuja bagagem me fez, sempre, ver tudo com mais clareza. Aquele que nunca me escondeu nada, nem mesmo a mais cruel das dores e muito menos a mais bela das alegrias. Aquele que, se pudesse, sentia todas as minhas mágoas como se suas fossem.
Por tudo o que já fizeste por mim, por tudo aquilo que sei que farias se pudesses, por tudo o que irás fazer sempre.
A ti, meu passageiro de sempre...
Setinha @ Turning another page

Wednesday 23 September 2009

A porta dourada

Alexandre foi a Lazarevo um tanto às cegas.
Não tinha mais nada. Literalmente mais nada: nem uma carta nem um bilhete de Dasha ou de Tatiana, comunicando-lhe que haviam chegado a Molotov. Tinha muitas dúvidas quanto a Dasha, mas como vira Slavin sobreviver ao Inverno, tudo era possível. O que o preocupava era a ausência de cartas de Dasha que, quando estava em Leninegrado, passava a vida a escrever-lhe. Agora, Janeiro e Fevereiro tinham passado e não sabia de nada.
Teve de conduzir um camião até Kobona uma semana depois de elas haverem partido. (...)
Lazarevo ficava a dez quilómetros, no meio de densos pinhais.
A floresta não tinha só pinheiros; ulmeiros, carvalhos, bétulas, urtigas e mirtilos acariciavam-lhe os sentidos enquanto caminhava com a mochila, a espingarda, a pistola e as munições, a tenda e o cobertor, o capacete e um saco cheio de comida de Kobona. Distinguia através das árvores a corrente do rio Kama. Ainda pensou em lavar-se, mas chegara a um ponto em que precisava de continuar a avançar.
Enquanto caminhava, ia apanhando mirtilos dos arbustos baixos. Tinha fome. Estava muito calor e havia muito sol. De repente, foi invadido pela esperança. Estugou o passo. (...)
Uma sebe e um lilaseiro largo obstruíam-lhe a vista. As flores roçavam-lhe a cara e o nariz. Inspirando o seu perfume intenso, espreitou. Não viu Dasha em lado nenhum; apenas quatro mulheres idosas, um rapaz, uma rapariga mais velha e Tatiana, que se encontrava de pé.
Ao princípio, nem acreditava que se tratasse da sua Tania. Pestanejou e tentou perceber melhor o que via. Tatiana andava a volta da mesa, gesticulando, mostrando, inclinando-se, debruçando-se. A dada altura, endireitou-se e limpou a testa. Envergava um vestido de camponesa amarelo de mangas curtas. Estava descalça e viam-se-lhe as pernas magras até acima do joelho.Tinha os braços nus ligeiramente bronzeados. O cabelo louro parecia quase branco por causa do sol e estava dividido em duas tranças que lhe chegavam aos ombros, presas atrás das orelhas. Mesmo de longe, notavam-se-lhe as sardas de Verão no nariz. Estava de uma beleza que até doía. E viva.
Fechou os olhos e voltou a abri-los. Continuava ali, debruçada sobre o trabalho do rapaz. Disse qualquer coisa, toda a gente riu em voz altae o braço dele tocou nas costas dela. Tatiana sorriu. Os dentes brancos cintilavam-lhe em harmonia como todo o corpo. Alexandre não sabia o que fazer.
Setinha @ Fuga de Leninegrado "O Cavaleiro de Bronze" - Paullina Simons

Sunday 20 September 2009

Esperança ou Mera Inteligência Nossa?

Diz-me assim, ao de leve, se em ti posso acreditar. Se contigo posso sorrir, ficar ou até partir para onde nunca mais possamos voltar. Raiando o sol naquela praia, se, em Setembro de mil-cores podes sentir a brisa fresca que emana de dentro de mim. Brisa que deixa tonto o ser vazio, o corpo sem vida, a alma voadora que, sem querer ou até mesmo sem deixar, corre livre pelo areal.
Areia fina, grão de prata, que o sol encandeia e deixa nela nossa marca. A par e passo, luz da lua espreita por trás do fim, e por detrás de nós. Onde jamais estaremos sós. Onde jamais gritaremos: amo-te sem fim.
Por detrás do fim, no que o dia nos quiser deixar, estaremos de mãos unidas ao luar. E assim, minha bela donzela, ficamos por fim, sentados os dois e tu sorrindo para mim.
Setinha @ "O Cavaleiro da Aurora Boreal - Esperança ou Mera Inteligência Nossa? - V. Branco"

Friday 18 September 2009

Carta à Felicidade

Um muro que caiu. Uma barreira destruída pel'aquela força que se dizia inabalável. Ping, ping ping. Gotas de chuva que caem junto a mim que ,de capa ao peito e a com a voz bem afnada, canto à desgarrada para esquecer. O mundo agitou, a terra tremeu e às brechas abertas pela força Mãe eu fui chegar.
Chagas do inferno, malditas que são. São chagas ardentes. Do meu coração.
Tão dura a jornada jamais percorrida, o Cavaleiro da Alvorada, traçou sua vida. E assim se conta história, do mais nobre Cavaleiro. Sentada ao relento, ouvindo somente o vento, canto em desalento, tudo aquilo que sinto.
Cantar por cantar, não sei com vigor. Sentir por sentir, com todo o fulgor. Não vou enganar ninguém, com minhas sedes puras, nem assim ficar, de certo, sem forças nem auras.
Ficar por ficar, não sei se quero. Na aurora brilhante, regressas enfim. Se estas aqui ou não, de novo para mim.

Setinha @ "O Cavaleiro da Aurora Boreal - Carta à Felicidade - V. Branco"


Saturday 15 August 2009

Um mistério com quase 100 anos de história

Durante quase um século de história desde a morte da Família Imperial Russa, a 17 de Julho de 1918, que muitas perguntas têm sido feitas a respeito dos factos da fatídica noite que vitimou o Czar Nicolau II e a sua família pela mão dos bolcheviques. De entre as várias questões especuladas por todo o Mundo, a mais polémica está relacionada com a possível sobrevivência de alguns membros da Família Imperial ao atentado da Casa Ipatiev, nomeamente da Princesa Anastácia.
Tanto mediatismo à volta desta tão relevante questão fez com que inúmeras raparigas se fizessem passar pela Princesa após o atentado, sendo a mais famosa de todas Anna Anderson, que mais tarde se veio a revelar uma impustora polaca que tinha desaparecido do seu país na mesma ocasião da morte do clã russo.
Foi devido ao grande clima de instabilidade política e social que, a 2 de Março de 1917, Nicolau II abdica do trono. Nesta altura, ainda residiam na Rússia 53 membros da comitiva Romanov, 18 dos quais foram presos.
Todos estes factores aliados ao descontentamento do proletariado russo, fazem com que Nicolau II, Alexandra e os seus filhos se vejam obrigados a retirarem-se para os Montes Urais, Ekatinburgo, para a Casa Ipatiev, onde, mais tarde, viriam a falecer.
Muito se conta sobre o que realmente aconteceu na cave de Ipatiev naquela abrasadora noite de Verão. Segundo o consenso de todas as histórias até hoje já escritas, contadas e levadas de boca em boca, naquela noite, Nicolau e a sua família foram levados pelos guardas vermelhos para a cave da Casa, com a desculpa de que o exército branco tinha invadido a cidade, para pôr fim, de uma vez, ao regime vivido na Rússia até então. A execução da família real foi um verdadeiro banho de sangue. Todos os 7 membros, juntamente com um criado, um médico e uma ama foram brutalmente assassinados pelo exército de guardas vermelhos que os mantinham em cativeiro em Ekatinburgo.
Quando, anos mais tarde, as escavações pela procura dos corpos do Clã Imperial começam, nascem as primeiras especulações devido a falta de dois corpos que seriam de Anastacia, a filha mais nova do Czar e de Alexandra, e Alexei, o único filho rapaz e herdeiro ao trono da Rússia.
Contudo, devido aos avanços da tecnologia e da ciência, foi possível, graças a analises de DNA dos restos mortais encontrados, posteriormente à data da descoberta dos primeiros corpos, confirmar que, afinal, o mito da sobrevivência da Princesa Anastácia não passava mesmo disso, um mito.
Por fim, a família real foi canonizada pela Igreja Ortodoxa Russa, que justificou o acto benemérito com o sofrimento da família.
Na nossa memória ficará para sempre tudo aquilo que foi dito e escrito sobre esta família que se viu envolvida numa conspiração que perpetuou a sua vida sem dó nem piedade e que, mais tarde, se veio tornar um exemplo de esperança e harmonia face às adversidades impostas pelo nosso destino.
A Russia nunca mais foi a mesma. A queda de Nicolau e Alexandra foi o primeiro passo para aquilo que se iria tornar num sanguinário destino para este país.
Setinha @ back from Russia

Friday 14 August 2009

À procura das razões que governam o coração

Quando a fantasia toca as raias da realidade, um novo mundo nasce, onde tudo é possível.

Zack Riley (Aaron Eckhart) exerce psiquiatria na mesma instituição onde o pai, T.L.Pierson, célebre autor de livros infantis, esteve internado alguns anos. Famoso pelo livro "Terra Mágica", que fez a delícia de milhares de crianças em todo o mundo, Pierson foi um pai perturbado que lutou desesperadamente para vencer os seus próprios demónios.
Por isso, Jack não guarda as melhores memórias desse tempo. E, quando celebra o 25º aniversário sobre a trágica morte do autor, Maggie Paige, uma jornalista para quem o livro foi um autêntico "santo graal" na sua infância, decide investigar a sua vida e obra, iniciando uma viagem ao passado, onde o presente e o futuro acabam por diluir-se...
Assinada por Joshua Michael Stern, esta película pode ser vista e analisada à luz de um conto infantil para adultos, que nos atira para uma terra mágica, que aparentemente "nunca existiu". Pelo menos é o que Zachary, o filho "abandonado", pensa ao ver-se subjugado por uma história real da qual anseia fugir, e ao mesmo tempo, desvendar.
Na sua companhia, os espectadores são levados a acreditar na fantasia dos contos de fadas e a aceitar que o "sonho comanda a vida", como o poeta sempre disse. Ao contrário do que qualquer um de nós possa imaginar, a terra mágica existiu e existe para alguns. Ainda que violando os limites do aceitável e da crítica, mal ou bem, certo ou errado, possível ou não, nela havia paz, cor, fadas e um rei...
Com Stern e o seu elenco constituído por Ian McKellen, Jessica Lange, Aaron Eckhart, Brittany Murphy, Nick Nolte e Alan Cumming, entre outros, o sonho é a verdadeira magia da vida, e, quando alguém soonha ou om leva a sério, ele transforma-se em realidade.(...)
Afinal, tudo existe porque, um dia, alguém sonhou....


Crónica ao filme "Terra Mágica", Isabel Vieira, TVGuia Nº1593 13/08/2009


Hoje, ia em viagem com a minha familia em direcção a Vila Nova de Milfontes e reparei neste artigo numa revista que ia dentro do carro. Achei-o, de todo, muito interessante, por isso, resolvi partilhá-lo aqui hoje com vocês. Um beijinho grande.


Setinha @ Milfontes

Tuesday 11 August 2009

Deixei de Sentir

Hoje deixei de sentir
Parei no tempo
Ele a passar por mim e eu quieta
Sem movimento ou cor
Sem alegria para sorrir

Hoje não sinto nada
Nem a dor da morte
E nem a felicidade d'um sorriso.
Deixei de sentir, por fim.

Sentada numa pedra
Olhando o vazio
Perdida e só comigo
De coração aberto
Sem batida ou reacção

Porque hoje estou aqui
Porque deixei de sentir
O tempo parou em mim
Para nao mais voltar a ser eu...

Setinha@

Quando Lucy espreitou para dentro do guarda roupa...

Na minha opinião, um dos mais bem concebidos romances infantis de toda a história da literatura é a grandiosa obra de C.S. Lewis, " As Crónicas de Nárnia".
Já tive oportunidade de ler todos os sete livros que constituem a obra, tanto em português como em inglês, e, ainda não sou capaz de escolher quais das duas versões está mais entusiasmante. Quando li a obra original de Lewis, a minha primeira leitura em inglês, fiquei fascinada com o modo como Lewis conta as suas histórias, devido a facilidade com que a escrita nos flui na mente. São histórias sobre crianças, escritas para crianças mas que têm o dom de deixar qualquer crescido rendido à simplicidade e harmonia que impera na escrita deste grande senhor.
De todos os sete livros de Lewis sobre Nárnia, o primeiro que li e aquele que abriu o horizonte para os restantes, foi "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa", que , mais tarde, se viria a revelar um sucesso de bilheteira no grande écrã.
Nas palavras de Lewis, "Era uma vez quatro irmãos cujos nomes eram Peter, Susan, Edmund e Lucy. Esta história é sobre algo que lhes aconteceu quando foram enviados para longe de Londres durante a guerra, por causa dos bombardeamentos aéreos".
Os quatro irmãos são, assim, enviados para casa de um velho Professor, e, é aqui que começa a aventura dos irmãos Pevensie quando, ao jogarem às escondidas. a pequena Lucy, a mais nova dos quatro, descobre, dentro de um quarto fechado e vazio, um velho guarda-roupa, que se vem a revelar como passagem entre o nosso mundo e Nárnia.
A posterior chegada dos Pevensie a Nárnia faz com que uma velha profecia conhecida entre os Narnianos, condenados a viver sobre um rigoroso Inverno durante cem anos, decretado por Jadis, a Feiticeira Branca, resuscite, levando-os numa luta pela liberdade, de forma a trazer de novo a Nárnia o calor de um Verão de sempre.
Só que os quatro irmãos não estaram sozinhos. Aslan, o grande Leão e símbolo de Liberdade para os habitantes de Nárnia está de regresso para ajudar os filhos de Adão e Eva, assim chamados pelos Narnianos, a cumprir a profecia, pois Aslan é o verdadeiro Rei de Nárnia.
"E em Nárnia quando se é Rei uma vez, é-se Rei para sempre."

Aqui fica também um excerto do texto de C.S. Lewis em inglês.

CHAPTER ONE

LUCY LOOKS INTO A WARDROBE


"Once there were four children whose names were Peter, Susan, Edmund and Lucy. This story is about something that happened to them when they were sent away from London during the war because of the air-raids. They were sent to the house of an old Professor who lived in the heart of the country, ten miles from the nearest railway station and two miles from the nearest post office. He had no wife and he lived in a very large house with a housekeeper called Mrs Macready and three servants. (Their names were Ivy, Margaret and Betty, but they do not come into the story much.) He himself was a very old man with shaggy white hair which grew over most of his face as well as on his head, and they liked him almost at once; but on the first evening when he came out to meet them at the front door he was so odd-looking that Lucy (who was the youngest) was a little afraid of him, and Edmund (who was the next youngest) wanted to laugh and had to keep on pretending he was blowing his nose to hide it.

As soon as they had said good night to the Professor and gone upstairs on the first night, the boys came into the girls' room and they all talked it over.

"We've fallen on our feet and no mistake," said Peter. "This is going to be perfectly splendid. That old chap will let us do anything we like."

"I think he's an old dear," said Susan.

"Oh, come off it!" said Edmund, who was tired and pretending not to be tired, which always made him bad-tempered. "Don't go on talking like that."

"Like what?" said Susan; "and anyway, it's time you were in bed."

"Trying to talk like Mother," said Edmund. "And who are you to say when I'm to go to bed? Go to bed yourself."

"Hadn't we all better go to bed?" said Lucy. "There's sure to be a row if we're heard talking here."

"No there won't," said Peter. "I tell you this is the sort of house where no one's going to mind what we do. Anyway, they won't hear us. It's about ten minutes' walk from here down to that dining-room, and any amount of stairs and passages in between."

"What's that noise?" said Lucy suddenly. It was a far larger house than she had ever been in before and the thought of all those long passages and rows of doors leading into empty rooms was beginning to make her feel a little creepy.

"It's only a bird, silly," said Edmund.

"It's an owl," said Peter. "This is going to be a wonderful place for birds. I shall go to bed now. I say, let's go and explore tomorrow. You might find anything in a place like this. Did you see those mountains as we came along? And the woods? There might be eagles. There might be stags. There'll be hawks."

"Badgers!" said Lucy.

"Foxes!" said Edmund.

"Rabbits!" said Susan.

But when next morning came there was a steady rain falling, so thick that when you looked out of the window you could see neither the mountains nor the woods nor even the stream in the garden.

"Of course it would be raining!" said Edmund. They had just finished their breakfast with the Professor and were upstairs in the room he had set apart for them—a long, low room with two windows looking out in one direction and two in another.

"Do stop grumbling, Ed," said Susan. "Ten to one it'll clear up in an hour or so. And in the meantime we're pretty well off. There's a wireless and lots of books."

"Not for me"said Peter; "I'm going to explore in the house."

Everyone agreed to this and that was how the adventures began. It was the sort of house that you never seem to come to the end of, and it was full of unexpected places. The first few doors they tried led only into spare bedrooms, as everyone had expected that they would; but soon they came to a very long room full of pictures and there they found a suit of armour; and after that was a room all hung with green, with a harp in one corner; and then came three steps down and five steps up, and then a kind of little upstairs hall and a door that led out on to a balcony, and then a whole series of rooms that led into each other and were lined with books—most of them very old books and some bigger than a Bible in a church. And shortly after that they looked into a room that was quite empty except for one big wardrobe; the sort that has a looking-glass in the door. There was nothing else in the room at all except a dead blue-bottle on the window-sill. "

Setinha @ Looking into the wardrobe



Tuesday 28 July 2009

Algo que me ficou...

"You know you love someone when you can spend the entire night just sitting by the fire, watching them sleep..."

Grams Evelyn Ryan

Setinha@

Wednesday 22 July 2009

Um dia escreveram sobre mim...


Devaneios das três

Olho para a minha secretária onde estou sentado ouvindo Frank Sinatra pensando no que escrever e vejo um livro. Mas este não é um livro qualquer: ‘Língua Portuguesa’. A quem pertence? Vera Branco. Se é verdade que não nos conhecemos à mais de um ano, também posso dizer que esse ano foi o mais atribulado e, contudo, o mais divertido da minha curta existência. Faz um pouco mais de um ano que realmente comecei a conhecer Vera Branco Júnior. Sinceramente não sei bem quando ou como começámos a falar mas, quando dei conta estávamos na mesma turma, no mesmo grupo de trabalho, na mesma carteira de escola. E, se não me lembro de tudo, recordo-me dos momentos mais banais e simultaneamente tão significativos entre nós. Porque eu acredito que são os pequenos actos que revelam verdadeiramente uma pessoa. E recordo não com saudade mas com uma certa nostalgia e admiração as aulas de Física em que a Vera me deixava de falar e eu a ela. Agora que penso nisso, não sei bem porque é que o fazíamos ao certo. Não sei porque é que passávamos a vida a discutir nas aulas e fora delas. Questiono-me se será a nossa diferença de personalidades, tão diferentes no modo de pensar e tão iguais em conceitos. Mas, quer quisesse-mos ou não, ambos ansiávamos pela reconciliação. Porque, estranhamente, queríamos estar na companhia e amizade um do outro. Demorei a sentar-me na minha cadeira e a escrever este texto porque não queria dizer as coisas à toa e, no entanto, agora sentado, escrevo pensamentos sem nexo que me fluem à mente sem ordem. Tudo porque olhei para o teu livro de português e pensei em ti. Nas horas que passamos na tua casa a ter conversas de vago sentido e silêncios infindáveis e, no entanto, tão curtos. Não quero fazer um texto a dizer que és a melhor pessoa do mundo. Quero fazer um texto real. Um texto que fale da verdadeira pessoa que existe debaixo da capa forte e espessa. Mas não tenho as palavras que preciso. Porque, connosco tudo se passa a um nível quase telepático. Porque, por debaixo da tão grande e bem aclamada protecção exterior existe uma pessoa tão forte como um Iceberg e tão frágil como um floco de neve. Alguém que acredita em algo mais e que espera sempre receber em troca do que dá. Por isso desilude-se quando finalmente descobre que quem tomou como sendo a melhor pessoa do mundo não passa de um normal humano que erra e não vê. Alguém que ainda muito tem para crescer mas que, ao ser observada, já é tão grande como o seu próprio coração consegue amar. E se mostra tão teimosa e determinada quanto humanamente possível. Porque, quando pensa que deve ser Ela a chegar ao nível que almeja faz tudo dentro dos princípios seus e alheios para lá chegar. Não é uma Watcher que apenas observa os outros e tem um sonho. Ela Faz. Faz e observa, ponderando cada passo do seu longo percurso como se o próprio passo fosse o percurso completo. Não vou escrever um texto descritivo ou sínico porque não é assim que eu sou. E porque sabes disso; e gostas. Porque valorizas a honestidade e os princípios. E não te vou dizer que és uma boa amiga como nunca antes tive ou que, quando contigo, me sinto não apenas o protector como sempre sou mas também o protegido. Porque sei que, quer me desequilibre ou caia tenho sempre alguém que me pode esticar a mão e ajudar a levantar. Não. Em vez disso vou olhar para a tua cara e cabeleira farta e dizer-te: ‘És buéda parva.’ E vou abraçar-te com o meu coração. Porque sei que, quer digas ou não, tu vais responder: ‘eu também te adoro muito.’
Setinha@

Tuesday 21 July 2009

Momentos

Deixei de contar o tempo. Passa depressa de mais. Passei a penas a contar os momentos. Aqueles que ficam na memória, que não se apagam como um desenho feito na areia à beira-mar.
Os momentos que se passam com alguém de quem se gosta, ou simplesmente o momento de ver o Sol ao fim do dia a desaparecer por detrás de uma árvore, que está ali dia após dia como se estivesse a namorar, e que quando morre deixa que as suas folhas sejam beijadas pelo vento.
Os momentos com os amigos, que são jóias raras, colhidas não se sabe bem em que grutas, mas que brilham nas noites escuras da vida de cada um de nós.
Os momentos de silêncio que são gritos, e os gritos que se tornam em momentos de silêncio.
Momentos feitos de pequenos grandes nadas, momentos que surgem entre oceanos de gente ou que aparecem na solidão das multidões.
E se o amanhã não chegar, os momentos ficarão na memória do tempo levados pela brisa dos oceanos ou pelas asas da noite até que cheguem a um porto seguro, e sejam decifrados por alguém que naquele momento esteja a olhar as estrelas, que ponteiam o céu como se de um bordado num fino pano de linho se tratasse.
E as páginas em branco de qualquer vida, são pontos negros de tristeza, porque não contêm momentos.
Setinha @ Moment in time

Monday 20 July 2009

À Maneira de uma Cosmogonia

Há muitos e muitos milhares de anos, a poesia aproximou-se do Homem e tão próximos ficaram, que ela se instalou no seu coração. E começaram a ver o mundo conjuntamente estabelecendo uma inseparável relação que perdurará para sempre. Não demorou muito a que a poesia se emancipasse, autonomizando-se. Como uma rosa de cujas pétalas centrípetas emana a beleza e o mais intenso perfume, sem nunca prescindir da defesa vigilante dos seus espinhos, assim cresceu livre a poesia carregada de silencioso mistério e sedução.

Há muitos e muitos milhares de anos, a poesia aproximou-se do homem e tão próximos ficara, que ela se instalou no seu coração.
E começaram a ver o mundo conjuntamente estabelecendo uma inseparável relação que perdurará para sempre. Não demorou muito a que a poesia se emancipasse, autonomizando-se.
Como uma rosa decujas pétalas centripetas emana a beleza e o mais intenso perfume, sem nunca perscindir da defesa vigilante dos seus espinhos, assim cresceu livre a poesia carregada de silencioso mistério e sedução.
Evitou sempre a vaidade. Mas o vento da história, inapercebidamente, por vezes, demorou-se nela libertando o seu perfume, soltando os seus enigmas, fazendo-a avançar com todo o seu esplendor. E nada existe que a poesia não tenha experimentado, desde o mais recôndito silêncio do deserto, ao fragor das batalhas mais sangrentas. Da mais humilde das intimidades, ao luxo sinuoso do palácio. Com o tempo, e já depois da comunhão primordial, era o Homem, por necessidade de uma comunicação maior, que a procurava e lhe abria o coração até que ela, muito discretamente, voltava a estremecer no seu sangue.
Poesia e Homem criaram assim uma cúmplice e indissociável relação por todo o mundo. embora a História pouco se tenha disso apercebido.
Hoje sabemos que haverá sempre seres humanos que a reconhecem pela substância do seu silêncio. Pelo tempo e lugar do seu rigor de ave de arribação. Pelo seu fulgor e perfume. Pela riqueza inesperada das suas sugestões. Com um pequeno gesto, os poetas soltam o seu pólen que, levado pelas palavras vai eternamente fecundando os arcos da beleza que erguem o Universo e o põem em comunicação com Deus.


Setinha @ the Begining