Friday 16 November 2012

Uma gota


Eu sinto os teus passos,
na escuridão
Pressinto o teu corpo
no ar, aqui
E vou como se o mundo todo fosse
sugado para dentro de ti
E não houvesse nada a fazer
senão deixar-me ir
Pressinto os teus gestos,
quando não estás
Procuro os teus sonhos,
perdidos
E hoje mais que qualquer outra noite
Há qualquer coisa que me fere
Que me faz querer tanto ter-te aqui
Não importa
que às vezes tudo é breve como um sopro
Não importa se for uma gota só
De loucura
que faça oscilar o teu mundo

E desfaça a fronteira
entre a lua e o sol...

Thursday 25 October 2012

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?

Não é da minha autoria mas na altura que mo mostraram (e já foi à bastante tempo), fiquei sensibilizada com a mensagem =)
Agora já não há ninguém para esquecer. Apenas para recordar =)

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está? As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar. É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução. Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha. Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

Sunday 19 February 2012

Dançar...


Dançar! Sentir! Levar voo para uma dimensão á parte… Um mundo onde só o teu coração é que manda. É um sentimento que começa e acaba em nós. Que vive connosco em cada compasso de música sentida.
Não há como descrever a sensação que uma bailarina tem quando calça as suas sapatilhas… Sujas e velhas como o tempo mais antigo de todos. Só ela sabe o que isso é. Só ela sabe a força que este pequeno gesto lhe dá.

E nos momentos mais tristes, quando o seu mundo lá fora se desfaz… Ela fecha os olhos e dança. E tudo se transforma. As cinzas virão rosas. A chuva vira fogo… E a relva torna-se mais verde que nunca.

Nunca ninguém perguntou qual é a força com que se movem os pés de uma bailarina. Nunca ninguém questionou qual o sentimento que a move. É amor. Amor a algo tão forte como a dança. Eu sei. Eu conheço a sensação.
A sensação de entrar na Sala de Ballet, calçar as sapatilhas e voar. Eu sou bailarina. Eu danço. Porque só um amor tão eterno como este, tão verdadeiro me preenche. Só este eterno amor…

A todas as bailarinas que conheço… Dancem. Com toda a vossa paixão.