Thursday 26 November 2009

O dia em que ela se foi...

Desço as escadas em direcção à porta. Perguntas sem resposta aparente ecoam. Ecoam cada vez mais alto na minha cabeça. Estou confuso. Não consigo entender o porquê da tua partida. Corro, corro. Levo a tua carta na mão e enquanto corro, os pensamentos aceleram-se e mais perguntas surgem. Parei junto ao nosso lugar para ler e reler de novo a mensagem que hoje me deixaste sem mais nenhuma justificação. Sinto a tua falta.

"L.
Costumavamos passar os Verões sentados à beira do lago a atirar pedras, a apanhar rãs e a sentir o sol nas faces. Tempos d'ouro esses. Será que ainda te lembras? Será que sentes saudades desses dias dourados em que nos olhavamos lá bem no fundo do nosso ser e nos riamos sem parar de palermices sem importância? Será que sentes?
Não sei. Hoje, estou aqui, a escrever esta carta para te dizer que sinto falta. Sinto muita. Embora esse pensamento permaneça eterno na mente de quem ainda te ama, digo-te agora com os olhos marejados em lágrimas que já não quero sentir que sou um peso na tua vida. Não quero sentir que fico com as migalhas que sobram daquilo que, com tanto amor, dedicação e amizade, dás aos outros.
Hoje, aqui, junto ao lago que nos viu crescer, amadurecer e seguir em frente, sento-me com a minha caneta e esta folha de papel branca e escrevo-te, em jeito de dizer adeus. Não será um adeus eterno. Apenas um "Até Já, L. ". Desta vez, tenho que partir, crescer e ser feliz. Voltar a sentir que não sou só apenas a miragem da porta ao lado ou aquela com quem brincavas em pequeno.
Prometemos que a nossa amizade seria eterna. Juro-te que vou respeitar essa promessa, mas agora chegou aquela hora que sempre tememos. A de me despedir. Vou apanhar a primeira brisa do temp e seguir com ela até onde me levar e lá, plantarei de novo a semente e esperarei que ela germine, cresça e se torne forte. E, no dia em que voltar, trazida de novo, pelo calor de ti, vou olhar novamente pela janela do meu quarto e ver-te sentado no baloiço do teu quintal e perceber que nada mudou. Que apenas nos perdemos nos labirintos do tempo e, agora que voltei ao lugar que sempre me pertenceu e que sempre me tomou como dele, tudo está no devido lugar.
Sei que ao leres esta carta, pensarás o que terás feito para, de repente, te veres sem mim. Verás que nada fizeste. E se um dia me perguntares o que me levou para longe de ti direi que foram os fios da teia do destino que nos separaram. Agora, sei onde estás.
Sei que estás onde queria que estivesses a ler este breve adeus. Sentado, na pedra marcada pelas nossas aventuras junto da laranjeira onde nossos nomes gravaste como sinal de amizade eterna. Vou voltar em breve. Espera por mim. Cresce, voa, sê livre. Até um dia. Com muito amor.

J.P."
Setinha @ O dia em que ela partiu

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